segunda-feira, 13 de agosto de 2012

59 - Mind the gap

Na primeira semana da Olimpíada, saiu 2 artigos, que achei importante colocar no blog e promover uma reflexão dos leitores.

Mind the gap* - O milagre sul-coreano no esporte


A Coreia do Sul era um país muito mais pobre do que o Brasil em 1966, quando construiu o seu primeiro centro de treinamento olímpico, que hoje abriga 21 modalidades.

Até aquela data, o país asiático tinha míseras nove medalhas olímpicas, duas a menos do que o Brasil na mesma época.
Hoje, os sul-coreanos têm 232 medalhas, e os brasileiros apenas 97.
Em Londres, enquanto o Brasil só cai no quadro geral, os sul-coreanos terminaram o oitavo dia na quarta colocação geral.
Mais impressionante foi a evolução do país, hoje um dos mais desenvolvidos do mundo, na Olimpíada de inverno.
Em 1966, quando criou seu primeiro centro de treinamento, a Coreia do Sul nunca havia ido ao pódio. Na última edição, em Vancouver, há dois anos, foi a quinta colocada no quadro geral de medalhas.
É verdade que o tigre asiático se especializou em ganhar medalhas em modalidades pouco populares, como tiro com arco e esgrima. Mas o país também é competitivo em esportes coletivos e, em Londres, ganhou duas pratas na nobre natação.
A evolução sul-coreana não tem nada de milagre. Enquanto o Brasil continua sem um verdadeiro centro de treinamento nacional, o país asiático tem três --um até com pista de atletismo na altitude.
E investe pesado na organização de eventos.
Nos próximos seis anos, a Coreia do Sul vai sediar os Jogos Asiáticos, a Olimpíada Universitária e também os Jogos de inverno de 2018. Haja fôlego.

(*): Mind the gap - expressão que eh dita em algumas estações do metrô de Londres, para chamar a atenção do espaço que existe entre o vagão e a plataforma.

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Seleções femininas do Brasil exageram nos questionamentos internos e esquecem adversários


Alguns atletas não dormiram depois de competirem em Londres. Lógico que ninguém vai para uma Olimpíada para perder. Por isso, quando a derrota acontece, a angústia se torna uma sombra. E o pior é quando a derrota acontece sem o atleta dar o seu máximo. Essa é a pior frustração: o atleta saber que ele não fez o que poderia.
Sim, existem dois tipos de derrotas. Uma em que você fez o seu melhor, mas o seu adversário se superou. Nesse caso, você não perdeu, simplesmente o seu adversário ganhou.
Um belo exemplo desse tipo de derrota aconteceu na Olimpiada de Sydney-2000, em que Grant Hackett ganhou a medalha de ouro na prova dos 1.500 metros livre sobre Kieren Perkins. Esse último era um veterano com uma história de grandes vitórias, mas foi vencido pelo novo fenômeno Hackett.
Ao ser entrevistado sobre como se sentia por perder a medalha de ouro, ele respondeu: “Eu estou triste por não ter ganhado o ouro, pois eu vim para ganhar o ouro, mas satisfeito com o meu trabalho, porque eu bati o recorde dessa prova. O problema é que o Hackett teve uma performance ainda melhor”.
Nesse tipo de derrota, o atleta tem claro que ele fez o seu máximo, mas o outro foi além.
O segundo tipo de derrota é aquele em que o atleta não apareceu para competir e o adversário simplesmente passou para buscar a vitória.
Em algumas derrotas do Brasil, nossos atletas não apareceram para lutar, e o adversário simplesmente ganhou sem precisar dar o seu máximo.
Um atleta perde a sua força máxima quando começaa a conversar consigo mesmo em vez de competir. Há atletas que ficam fazendo perguntas para si mesmos que começam com a palavra ‘será’. Será que eu vou ganhar? Será que eu deveria ter treinado no exterior? Será que eu vou perder? Será que eu deveria ter trocado de treinador?
E depois, ele troca de palavras e começam as perguntas ‘e se?’ E se nós formos desclassificados? E se eu cair durante a prova? E se eu for vaiado? E se eu perder a partida?
Quando começam esses diálogos internos durante a competição, a confusão fica tão grande que o atleta briga consigo mesmo em vez de lutar com o adversário.
Nesses casos, o que geralmente acontece é que o atleta já chega na vila olímpica pensando mais na derrota do que em como ganhar a prova. E então começa a passar um filme na mente do atleta, sobre o que ele deveria ter feito de diferente durante a sua preparação, e esse questionamento vai aumentando dia após dia até que, no dia do jogo, a energia vai embora.

PS: Esse artigo foi escrito durante a etapa de classificação, onde a seleção de volei chegou a correr  um sério risco de não passar a fase seguinte.

SELEÇÃO DE FUTEBOL NA BALADA

  • Reprodução/Instagram 
  • Neste sábado, apareceu uma foto das atletas do futebol se divertindo em uma balada e eu me lembrei de um comentário do falecido técnico Telê Santana sobre os seus atletas saírem para dançar depois de uma derrota: "Eles têm todo o direito de se divertir como qualquer ser humano, mas se depois de um jogo decisivo eles ainda tiverem energia para dançar, aconteceu alguma coisa errada na dedicação desses atletas durante o jogo. Atleta de futebol que deu o sangue na partida não consegue sair de casa".
Alguns sets da nossa equipe feminina de vôlei têm sido assim. De repente, elas pararam de jogar contra a Turquia e começaram a brigar para responder essas perguntas. Algumas atletas começam a brigar consigo mesmas enquanto o jogo está acontecendo.
No futebol feminino, então, em alguns momentos pareceu que as atletas trouxeram o corpo, mas não a alma para o campo.
Na sexta-feira, a seleção feminina de basquete teve atletas que ficaram muito mais pensando no que falar para a imprensa no caso de derrota do que lutar pela bola.
Geralmente nessas situações, a angústia vai aumentando e ninguém tem coragem de acordar o time para começar o jogo.
Para quem ainda está nos Jogos é ter foco total na partida, e para quem já está de volta para casa é preciso que cada um assuma a responsabilidade por seus erros, para que o futuro seja melhor do que foram esses Jogos Olímpicos.


Roberto Shinyashiki

Psiquiatra com pós-graduação em Administração de Empresas e doutorado em Administração e Economia, viaja o Brasil e o mundo fazendo palestras, conduzindo seminários e atuando como consultor para empresários, políticos e esportistas. É autor de vários best sellers, entre eles “Sucesso É Ser Feliz” e “Problemas? Oba!” e já vendeu mais 6 milhões de livros.

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